terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Janela



Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo quarto de hospital.

Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todas as tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões.

A sua cama estava junto da única janela do quarto.

O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas.

Os homens conversavam horas a fio.

Falavam das suas mulheres e famílias, das suas casas, dos seus empregos, onde tinham passado as férias.

E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se sentava, ele passava o tempo a descrever ao seu companheiro de quarto, todas as coisas que ele conseguia ver do lado de fora da janela.

O homem da cama do lado começou a viver à espera desses períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado por toda a atividade e cor do mundo do lado de fora da janela.

A janela dava para um parque com um lindo lago.

Patos e cisnes chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados por entre as flores de todas as cores do arco-íris.

Árvores velhas e enormes acariciavam a paisagem, e a tênue vista da silhueta da cidade podia ser vista no horizonte.

Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava a pitoresca cena.

Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia a passar.

Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, ele conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a refratava através de palavras bastante descritivas.

Dias e semanas passaram.

Uma manhã, a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para os seus banhos, e encontrou o corpo sem vida do homem perto da janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia.

Ela ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital para que levassem o corpo.

Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela.

A enfermeira disse logo que sim e fez a troca.

Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado, a enfermeira deixou o quarto.

Lentamente, e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no cotovelo, para contemplar o mundo lá fora.

Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora da janela, que dava, afinal, para uma parede de tijolo!

O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o seu falecido companheiro de quarto, lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela.

A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia ver a parede. “Talvez ele quisesse apenas dar-lhe coragem”.

“Há uma felicidade tremenda em fazer os outros felizes, apesar dos nossos próprios problemas. A dor partilhada é metade da tristeza, mas a felicidade, quando partilhada, é dobrada”.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Boa Viagem



Para viajar nem sempre precisamos de passagens aereas ou gasolina no tanque. Nem sempre precisamos ir para tao longe e gastar tanto dinheiro. As vezes a verdadeira viagem esta do nosso lado. Nas esquinas e bares de qualquer lugar. Bastar nos libertamos de nos mesmos. Dar asas a nossa alma e nos permitir sonhar e olhar. Sem medos, traumas. Libertar os paradigmas que mantem presas nossas mentes no passado ou no futuro. As vezes, ler um livro ou ouvir uma musica nos leva a uma viagem muito maior do que simplesmente entrar num aviao. Mas para isso, eh preciso ter a sensibilidade de um poeta e a ousadia de um artista. Os mais evoluidos conseguem viajar atraves dos outros. Enxergar um outro mundo diferente do que eh seu, atraves do olhar dos outros e sentir a sua dor ou alegria. Afinal, dizem que viver simplesmente ja eh por si so uma longa viagem. Abaixo, compartilho as sabias palavras de um certo viajante de nome estranho, mas que ja acumulou milhas nauticas incontaveis de experiencia de vida por todos os continentes. Que cada dia possa ser uma prazerora viagem para cada um de nos. A estrada eh curta, mas o caminho da evolucao eh longo. Bjos na alma e bom voo.

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, com seus olhos, não só por meio de histórias, imagens, livros ou tv. Precisa viajar por si, com seu coração e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Precisa se afastar, para saber quão valiosos são aqueles que ficaram para trás. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece, para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como ele é; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir e VER". Amyr Klink

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sejamos Pipoca !

Que tenhamos sempre o fogo suficiente capaz de mover, mas nunca grande a ponto de parar. O fogo suficiente para ousar, mas nunca grande a ponto de temer. Suficiente para amar e perdoar, mas nunca grande a ponto de arrepender ou desistir. Bjos na alma.

Texto abaixo extraído do livro: "O amor que acende a lua" de Rubem Alves

"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosa.

Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.

Pode ser fogo de fora: perde um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.

A pipoca não imagina aquilo que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM!

E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela nunca havia sonhado. Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.

No entanto, o destino delas é triste, já que elas ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
Não vão dar alegria para ninguém".