sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sabe la



Musica by Dudu Guedes

C G
Vai dizer que o amor
D
Nasceu daquela flor
C
Bem devagarinho
G
Nem reparei o ninho
D
Que o beija-flor deixou


G
Sabe la
Am
Baloes sao feitos pra voar
Em
E colorir os ceus
B7
Mesmo que seja pra falar
Em
Que ficou tudo no lugar


C G
Sei que posso ser como um menino
Am
Que tem la os seus espinhos
G
Mas que tambem sabe voar

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O tempo nao para ...



Texto by Dudu Guedes.

Hoje olhei para o Cristo e lhe pedi uma resposta. Nao encontrei. Perguntei de novo, mas ele permaneceu estatico no alto do morro. Nem uma piscadela. Bracos abertos, imovel sobre a baia de guanabara e o jardim botanico. Nao dormia, mas tambem nao falava. Olhei de relance como se fosse possivel notar um leve movimento entre um instante e um segundo. Mas nada.

Continuei a jornada e esqueci dele. Sigo adiante como se um piloto automatico interno me guiasse ate em casa. Restaurantes cheios, finalmente viro a direita na minha rua. Um caminhao enguicado esperava por um reboque, contrastando com a do paz do bairro. Resolvi voltar na contramao e pegar outra rua. Ligo o radio para distrair um pouco. Escuto logo um "eu sou um cara cansado de correr na direção contrária, sem pódio de chegada ou beijo de namorada, eu sou mais um cara". Salve Cazuza. "Mas se você achar que eu tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo não pára".

Desco do carro ja na frente de casa. Uma mae passeia com o filho. Ele me sorri. Seu sorriso acompanha meu olhar, ou seria meu olhar que acompanha seu sorriso. Nao importa. Finalmente entendi. Olho para o Cristo e agradeco. Se um dia acordar triste, experimente roubar o sorriso de uma crianca. Criancas sao a materializacao dos anjos na terra e musicas sao harpas conduzindo suas melodias. As vezes, as respostas que buscamos nao vem verbalizadas. Percebi o presente que recebi do universo. Porque o tempo, o tempo nao para.

"Nosso mais forte elo com a vida é o franco e radiante sorriso de uma criança".

Melodia em Construcao




Musica By Dudu Guedes

Cade aquela crianca ?
Ficou presa na lembranca ou se perdeu no tempo
Sem lenco, nem documento, so o relogio nao viu passar

Chorou porque nao soube amar
Da poesia tentou espalhar alegria
E dos seus versos, o amor inundar

Assim nasceu a sereia, seus cachos como uma teia
Morreu sem saber nadar

Nao importa para onde va
Sera sempre um poeta no mar

Girassois do Mar



Foto e Musica by Dudu Guedes

Introducao G ... C ...

Foi assim
Que o sol escolheu voce
Entre tantos girassois, que o jardineiro nao viu
Presa nos meus anzois, so um pescador sorriu
Esqueceu de me avisar, que no mar existe o amar
So nao existe o amanha

Deitada nos meus lencois, te reguei bem devagar
Pra nascer uma cancao, te fazer o meu refrao
Nas cordas do violao, andar juntos no mesmo tom
E celebrar um novo dia, com a mesma harmonia

Sem sabe pra onde vamos, mas cientes do que somos
Voar pelo teu ceu, do teu sorriso fazer um veu
Onde possa abrigar o porto-seguro do nosso amar

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O tempo eh uma raposa



Texto e foto by Dudu Guedes.

O tempo eh uma raposa. Lembro de ter ouvido esta frase em algum filme. Verdade. O tempo eh como um relogio que nao carregamos no pulso. Aprendemos que pode ser medido em segundos, minutos, horas, dias, meses ou anos. Mas esquecem de nos ensinar o mais importante: o tempo eh relativo e voa como uma raposa.

O cinema ja reproduziu por vezes o desejo humano de construir uma maquina do tempo. Fazer como o Macfly e voltar no passado ou acelerar para o futuro. Mas feliz ou infelizmente, isto so eh realmente possivel na ficcao. O espaco e a materia sao apenas um so. Melhor assim. Evitamos a capacidade humana de produzir estragos ao brincar de ser Deus. A unica certeza que temos eh de que morremos um pouco a cada dia desde o instante em que chegamos ao mundo. Ironia pensar que o nascimento tambem eh morte ou que o comeco tb eh o fim. Como uma ampuleta que pode girar mais rapido ou devagar e so depende do que vc coloca dentro. Se colocar agua, ela escorre pelas suas maos, impossivel segurar. Se colocar areia, grudara por entre os dedos. Pois bem. Coloque areia, agua e plante uma flor. E da flor, nascera o amor.

O amor desacelera o tempo, faz o passo ficar devagar e encurta distancias. E nao falo apenas do amor de homem e mulher. Mas o amor de um filho pelo seu pai e sua mae, do amor de irmaos, de amigos e por que nao de pessoas desconhecidas. Um conceito muito mais amplo de apreciar a beleza do mundo mesmo no caotico movimento das coisas. Um dia pode ter a duracao de um ano ou um ano pode ter a duracao de um dia. Depende das nossas escolhas e da nossa perspectiva.

Recentemente tive contato com a ONG Sonhar Acordado que realiza um trabalho muito especial. Eles se propoem a dificil tarefa de levar alegria e esperanca a criancas de baixa renda com doencas cronico-degenerativas ou em fase terminal. Cada voluntario tem a missao de cuidar de uma crianca, descobrindo e realizando o seu sonho junto a sua familia. Sem duvida, aprendemos que a doacao eh como um presente divino onde nos conectamos com algo maior.

Percebemos que o amar vem antes do amor. O verbo vem antes do substantivo. O sentimento amor eh consequencia da acao de amar. Ninguem diz: o meu amor eh seu, mas sim eu te amo. Pura acao traduzida em palavras. Se a reflexao fizer sentido, deveriamos abolir os substantivos abstratos do dicionario. O nome ja traz implicito a ilusao que criamos. Um substantivo abstrato nao existe por definicao, em especial quando se trata de emocoes. O que existe eh a capacidade ou atitude de realizar alguma coisa. E nem mesmo a intencao faz sentido neste caso ...

Experimentemos os olhares de crianca. Lembro do meu susto ao visitar o colegio em que estudei. O corredor parecia espremido, a escada tinha diminuido e no patio ja nao cabia mais uma partida de futebol. Pura ilusao de optica. Me decepcionei comigo mesmo e constatei que os olhos do observador ja nao tinham a dimensao de uma crianca, mas de um adulto. Esfreguei o rosto novamente com as maos. Novamente. E de novo. Enxergava apenas o concreto frio de uma construcao. De repende ouvi o sinal tocando e enfim a nostalgia pareceu conduzir os pensamentos. Criancas corriam enquanto outras estudavam embaixo da amendoeira centenaria. O cheiro de queijo-quente continuava igual ... Pronto. Tinha ajustado novamente o meu relogio. Nada contra um torneio de natacao, mas prefiro deixar para os atletas a paranoia de uma corrida contra o tempo. Um milesimo de segundo que pode definir o sucesso ou fracasso de uma vida. Duro nao ? Depois mais 4 anos de trabalho para a proxima olimpiada. Como pode, ao mesmo tempo que se valoriza a fracao de segundo, as vitorias demoram 4 ou mais anos ... Uma das muitas loucuras frutos das contraditorias invencoes humanas, na minha opiniao.

Prefiro caminhar devagar como dizia Amir Sater. Compreender a marcha e ir tocando em frente. Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs. Verdade absoluta do olhar de um poeta. Quem nunca saiu apressado de casa e engoliu o cafe ? Certamente cumpriu a pontualidade de seu compromisso, mas esqueceu de saborear mais um instante. Nao sentiu o gosto do cafe.

Tudo bem, entendo que nao podemos viver como hippies e ignorar nossos compromissos sociais. Mas tambem nao podemos viver como engravatados de uma peca de teatro que nunca fecha as cortinas. De um intervalo para voce mesmo e se permita assistir tambem o proprio enredo. E se necessario, reescreva a rima. Uma musica nao se esgota no primeiro refrao, mas nasce de uma ideia que precisa ser aperfeicoada. A perfeicao vem do aprendizado e o aprendizado se conquista com erros e acertos inerentes a condicao humana. Faz parte.

So podemos ter a ideia da dimensao de um acontecimento depois de enxergar o todo. Assim como na historia, que so pode ser contada depois de anos e anos. Hoje sabemos o efeito que os colonizadores portugueses tiveram sobre nossa cultura, mas certamente os indios nao faziam a menor ideia quando receberam os primeiros espelhos e especiarias. Como dizem na India, que seja possivel silenciar a mente e o coracao. Trazer a nossa consciencia para o presente e conectar com o aqui e agora. E finalmente viver. Viver cada dia e fazer sempre o bem. So assim dormiremos em paz. Quem sabe algum dia.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Risca de Giz



Texto by Dudu Guedes

A executiva saiu de casa apressada. Tinha uma reuniao decisiva com o board da empresa. Nao poderia atrasar num dia tao importante. Ordenou a baba que levasse seu filho a creche. Colocou um blazer risca-de-giz que so usava em situacoes extraordinarias. Aquela era sua chance de sentenciar a promocao que almejava. Entrou num taxi e rumou ate a boulevard mais proxima. Ignorou a fila e entrou no elevador cega pela seu compromisso. Seu sonho era trabalhar no ultimo andar do predio. Quanto mais alto o andar, mais importante o cargo, pensou. Apertou o vigesimo, orgulhosa de si mesmo. Olhou pelo espelho para conferir os ultimos ajustes no visual. Queria impressionar, mas tomou um susto. Na pressa de sair de casa, esqueceu de pentear o cabelo. Esqueceu de escovar os dentes e esqueceu de tomar banho. Os olhos ainda remelentos revelaram a sua identidade e despiram a fantasia que tentava reproduzir. As pessoas ao redor dela nao abriram a boca, mas era nitido o riso no olhar. O desespero tomou conta de Helena. Corta. Cena 2.

Helena acorda assustada. Confere o relogio. 6:30 da manha, 1 hora antes do despertador tocar. Engracado este nome, se fosse bom nao se chamaria despertador e sim despertalivio ... Helena nao consegue mais dormir. Nao quer que o pesadelo se torne realidade. Prefere ficar acordada e repassar a apresentacao. Mal sabe que o pesadelo ja tinha acontecido. A tal "maldicao da prece atendida", temos que tomar cuidado com nossos pedidos. Desejava um objetivo tao cegamente que esquecera de enxergar as renuncias que cometera. Prepara uma xicara de cafe, e le superficialmente a primeira pagina do New York Times. Apesar de morar no Brasil, ela queria impressionar. Passa pela secao de economia e tenta memorizar o fechamento da bolsa de valores do dia anterior. Maria traz o cafe quente. Derruba no terno risca de giz de Dona Helena. Ela grita e acorda seu filho. Pedro, de apenas 3 anos, aparece na porta da sala chorando assustado. Histerica, Helena nao para de reclamar. Corta. Cena 3.

Dona Helena abraca Pedro. Ela nao sabe ao certo quando passou a ser a Dona Helena e quando deixou de ser a mae do Pedro. Mas parecia um tempo longinquo. Ja nao lia mais historias em quadrinho para o filho. Sua obsessao pela promocao colocaram-na numa jaula dos seus tortos pensamentos. Troca o terno risca de giz. Corta. Cena 4.

Helena sai de casa. Entra no taxi rumo a boulevard mais proxima. Passa apressada pela fila do elevador e aperta o vigesimo andar, orgulhosa de si mesmo. Confere o visual e toma um susto. Cabelos despenteados, olhos remelentos. Dessa vez esquecera realmente de tomar banho. E ainda estava sem o terno risca de giz. Nao era um sonho. Era um pesadelo em vida real. Decidiu descer e apertou o primeiro andar. O elevador parece percorrer uma torre do Empire States. Finalmente para e abre a porta. O CEO entra, cumprimenta Helena e diz: "bom dia, estamos atrasados". Ela nao tinha mais escolha. Permanece no elevador. Thomas, um ingles metodico, observa fixamente Helena e pergunta: novo corte de cabelo ? Helena congela. O elevador para no vigesimo andar. Os dois saem rumo a sala da reuniao. Corta. Cena 5.

Helena entra na sala de reuniao meio sem graca. Olha em volta e nao acredita. Tudo parece meio fora de lugar. A sala esta meio baguncada. Algumas pessoas de meia, outras de pijama e todos com um visual de recem-acordados. Ela parece nao crer no que ve. Faz um esforco e tenta acordar. Nao consegue. Ate os mais serios passam por ela com o cabelo desajeitado, tipico de uma noite mal-dormida. Vira para o lado e avista Patricia. E descobre, para seu espanto, que a mais barbie da empresa nao tinha cabelo liso como aparentava. Helena solta um riso contido que logo vira uma estrondosa gargalhada. Olhos esbugalhados, camisas amassadas, o dia parecia estar do avesso. Mas ela nao era a unica naquele vexame coletivo, pensou. Ricardo chega para acalmar. Helena, vamos conversar - ele diz. Preciso explicar o que esta acontecendo, emenda ele. Corta, cena 6.

Helena acompanha Ricardo ate outra sala mais reservada. Sentam numa mesa. Ela parece ansiosa para ouvir. Tudo comecou hoje as 07 da manha com a chegada do nosso primeiro colaborador, diz Ricardo. No inicio, todos parecem confusos e assustados. Mas percebemos que trata-se de um surto coletivo. Podemos definir surto como a ocorrencia de cinco ou mais casos numa area geografica definida de uma reproducao de comportamentos comuns ... Parece que isto esta acontecendo hoje em todo o planeta. Recebemos relatos de casos semelhantes em Hong-Kong, Cingapura, Nova York e Portugal. Ricardo da um breve suspiro e diz: calma Helena, vai passar. Corta, cena 7.

Helena, ja mais calma, decide passear pela empresa e desfrutar daquele momento. Por alguns instantes, parece enxergar beleza onde nunca vira outrora. Lembra de seu filho Pedro e resolve ir para casa. Anda devagar pelas ruas e parece descobrir uma nova cidade em caminhos tao habituais. Parece mais integrada e conectada com o universo. Corta, cena 8.

O despertador toca. 10h da manha. Helena acorda assustada. Nao entende direito o que aconteceu. Perderia a tao esperada reuniao. Anda pela casa ainda atonita e encontra Pedro brincando no tapete da sala. Abre as cortinas e ve um bloco de carnaval passando bem embaixo da sua janela. Pessoas com as mais diferentes fantasias. Maria se aproxima, lhe entrega o terno risca de giz e diz: a senhora esta atrasada, dona Helena. Claro, ela responde. Rapidamente veste o terno e decide levar o Pedro. Desce apressada, pega o Pedro no colo e se mistura alegre com sua fantasia no meio da multidao. As pessoas riem. O celular vibra. Era uma mensagem do Ricardo: "vc nao vem ? a reuniao ja comecou". Helena responde: "calma Ricardo, vai passar".

Pausa para a reflexao ...

Um dia me explicaram que o significado das gravatas era esconder os botoes da camisa. Esconder pra que cara-palida ? Fica mais elegante, insistiram. Apesar de nao ser um exemplo de foliao no carnaval (confesso que prefiro evitar os tumultos), reconheco que a data tem um papel importante de renovacao. Deixamos de lados as vestes de adulto para exercitar um novo olhar. Mas por que precisamos esperar 1 ano para durante o carnaval vestir outras fantasias ?

Certa vez, um amigo fez o seu trabalho de conclusao da faculdade baseado em um interessante estudo da loucura. Visitou um manicomio e cedeu algumas maquinas fotograficas para os internados com transtorno mental. Pediu que durante 1 semana eles tirassem fotos de temas especificos como paisagem, pessoas, casas e por ai vai. Fez o mesmo com as pessoas consideradas de plena sanidade. O resultado foi bastante perturbador. As pessoas consideradas normais tinham uma preocupacao coletiva e unanime de enquadramento perfeito. As casas estavam sempre centralizadas. No manicomio, as fotos tinham um recorte de poesia. Nao existiam fotos iguais. A foto as vezes enquadrava um sorriso, as vezes um nariz. Concluiu que loucura esta nos olhos de quem ve. Enxergar a realidade igual eh talvez a maior delas. A historia revela quantos queimaram na fogueira da inquisicao para que fosse possivel aprendermos e evoluirmos. Sabios loucos de outrora.

Deveriamos ter um dia onde todos sairiam as ruas como simplesmente acordaram. Parece loucura, mas quem vive no interior sabe do que estou falando. As pessoas se conhecem mais na sua essencia. A intimidade que revela a verdadeira identidade e expulsa a camuflagem de cameloes sociais que tentamos reproduzir. Nada contra a boa educacao e higiene. Claro que um pouco de vaidade tb nao faz mal a ninguem. O problema sao as fantasias que todos os dias tiramos do cabide sem questionar.

Que possamos valorizar as coisas simples, verdadeiras e intensas da vida. Que possamos abrir as portas do manicomio em que vivemos e enxergar o mundo com os olhos de crianca. Que os loucos de hoje possam ser os genios do amanha.

Ps. Agora sinceramente, olhe a primeira e ultima foto abaixo e me responda: quem esta realmente fantasiado ? Contrariando o artista: "que todo carnaval nao tenha seu fim".