terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Finitude


(Texto por Eduardo Guedes)

2019 começou intenso. Muitas tragédias de diferentes naturezas, mas todas equivalentes na dimensão da dor de quem sente. 

Perder alguém é uma dura realidade que não nos ensinaram na escola. E mesmo que você seja veterano no assunto, uma perda sempre parecerá irreparável. Um exercício de desapegar daquilo que nos foi arrancado subitamente, sem explicação nem aviso prévio.

Somos finitos, somos frágeis na matéria. Mas somos infinitos nas dimensões da alma e no amor, daquilo que não podemos enxergar. O jornalista perguntou a uma criança como definir o amor. Ela sorriu e o abraçou. Sabedoria infantil que compreende que o amor não pode ser explicado mas apenas vivido, doado, compartilhado. O amor não tem fronteiras, idiomas, religião e transcende a própria matéria. O amor é o único combustível capaz de perpetuar nossa estada na condição humana, uma espécie de elixir da vida eterna.

Sem planejar ou nos despedir de quem amamos, deixamos para depois a bola com o filho que ficará sempre guardada no armário, o jantar com a mãe que acabou esfriando, o cinema com a esposa que já saiu de cartaz, a conversa no trabalho que nunca se concretizou, a viagem que jamais foi carimbada no passaporte. Em um piscar de olhos, ja não estamos mais aqui. Como a chama da vela que se apaga na súbita brisa do vento.

Levamos uma vida movida pela inércia do ontem e a preguiça do amanhã. Justificamos nossas ausências ou excessos pelo cansaço do dia que passou ou pela ilusão do dia seguinte. O dia seguinte é uma projeção da nossa imaginação. Mas não existe dia seguinte nem máquina do tempo. Precisamos viver o hoje na plenitude do amor. Amor é doação e entrega, sem condições ou contra-partida. Quem ama basta. 

É preciso compreender que não temos um dia a mais, e sim um dia a menos. O dinheiro jamais compensara os momentos que não foram vividos. O seu cargo ou sua autoridade não serão capazes de trazer ninguém de volta. Apenas lembranças que ficarão para sempre na memória.

O que conforta é saber que o amor eterniza as pessoas que amamos em nossos corações. A saudade é o amor que fica e torna eterna nossa frágil condição humana. Portanto cuide diariamente de regar as plantas do seu jardim, para que no dia que não puder mais fazê-lo, ja tenha espalhado suas sementes por aí. 

Que as crianças do Flamengo, Boechat e o seu piloto, as vítimas de brumadinho, das enchentes e de tantas tragédias diárias façam uma linda travessia para o lado do Pai e que suas famílias encontrem força e fé em um momento tão difícil. Que Deus perdoe nossa ignorância e que sejamos capazes de semear e espalhar o amor.