sexta-feira, 14 de abril de 2017

Apelidos



(Texto por Dudu Guedes)

No escritório da construtora, João chega da agencia e encontra Marcelo e sua equipe de marketing.

- Olá pessoal, tudo bem? Então ... trouxemos aqui algumas propostas de nomes para avaliação de vcs. Usamos o nosso melhor time de criação da agência. Só pra alinhar, o briefing foi manter a discrição, mas também preservar a persona de marca de cada um. Usamos um conceito criativo baseado no humor, mas também temos um campanha alternativa na linha mais emocional e a ideia é ...

- Ok. Vamos lá, Joao, sem rodeios. Não temos muito tempo. O pessoal tá querendo o dinheiro. O que trouxe ai?

- Ok. Vamos a lista. Começando por Jose Chaves ... o codinome sera ... Maria!

- Mas ... Maria é nome de mulher, joao!!!

- Justamente ... isso é para disfarçar. É referência a Maria e José. 

- Porra joão, tá maluco. Isso vai dar muita confusão pro contas a pagar. Eles vão acabar depositando na conta da Dilma. Muda aí: Jose Chaves será chaveiro. Assim ninguém tera dúvida.

- Tá bom. Anotado. Vamos pro próximo: Sandro Mabel do PR-GO. O apelido será "Globo".  

- Globo, joão??

- Isso. Globo é um biscoito famoso no Rio, e biscoito é Mabel.

- Porra, Joao. Vc conhece o pessoal do financeiro? O perfil é mais operacional, tem que ir direto ao ponto. Vão acabar depositando dinheiro naquela emissora!!! Vai dar M! Anota ai, ao invés de Globo, coloca logo "Biscoito" em referencia a Mabel. Precisa ser mais simples!

- Tudo bem, Marcelo. Nossa agência é "customer driven", vc que manda! Ja alterei. Vamos pro outro: Robson Faria será "bonito". Esse ninguém vai ter duvida, não acha não?

- Tá me estranhando, Joao????? Na minha terra isso é desaforo!! Rapaz, se aquete! Coloca aí "bonitinho". Agora ... Coloca aí "cunhado" pro Inaldo Leitão! Vc já viu a irmã dele? 

- Ok. Vamos adiante ... José Roberto, ex-governador do DF, será "volei". 

- Esse tá muito fácil. Vcs nao entenderam nada do briefing heim! Assim vou abrir RFP pra trocar a agencia heim! 

- Nao faça isso nao, dotor ...

- Muda o Jose Roberto pra "parreira" pois o original vem de Carlos Alberto. Mais discreto!

- Ta bom, ok! Vamos pro Jarbas Vasconcelos do PMDB. Pensamos em Flamengo por causa do Vasconcelos.

- Joao, não dá pra misturar time de futebol, tem muito ladrão, muito cartola e vão acabar vindo aqui pedir dinheiro também ... Então anote aí: o Jarbas vai ser Viagra! 

- Mas aí ja é sacanagem!

- Sacanagem é o dinheiro que ele tá pedindo!

- Eu sei, mais aí o jurídico não vai aprovar! Pode dar procon, conar, processo por calúnia e difamação ...

- Rapaz, a gente coloca um texto legal com letra pequena e ninguém vai reparar.

- Tudo bem. Vc é o chefe! Ja anotei as alterações. Vou providenciar as mudanças.

- Ok, nao demore.

- Ah chefe, ja ia esquecendo ... E o joao santanna?

- Mas ... joao santanna é vc!

- Sim. É pra pagar a hora extra da criação no fim de semana.

- Anote ai entao.

- Diga!

- Nuulo!!!

- Nulo? Esse é meu apelido?

- Esse é o dinheiro que vc vai ganhar por esse job. Vamos ver se na lista do natal vcs conseguirão surpreender. 

- Tudo bem. Até mais.

- Vai embora logo ! Ah e nao esquece de deletar os nomes do computador heim!

sábado, 1 de abril de 2017

Auto-Promocao


(Texto por Dudu Guedes)


Confesso que fico um pouco assustado com o uso das mídias sociais. Reconheço seu caráter como ferramenta de transformação e evolução social. Mas ao mesmo tempo me impressiona a capacidade de auto-promoção de muitas pessoas. Corredores novatos que se tornam atletas olímpicos, gurus espirituais, cientistas políticos etc. 

Ora, importante deixar claro: não tem nada demais divulgar conquistas, compartilhar alegria ou dividir opiniões. Ajuda a transformar outras vidas e também alimenta nossa auto-estima. Também pode ser uma eficiente ferramenta de divulgacao pessoal ou profissional. O problema é quando o facebook vira um outdoor virtual com o objetivo principal de alimentar a vaidade. Postagens de autopromoção que buscam recordes de curtidas e comentários na rede para satisfazer o próprio ego. Não basta nos comparar a vida dos outros, mas também precisamos diariamente melhorar a imagem da própria persona digital, como se existissem 2 vidas independentes.

O exercício é simples. Se você pudesse colocar um anúncio sobre você todos os dias em um outdoor no corredor da marginal pinheiros ou na contracapa da revista Veja, como seria? Cuidado para não passar do ponto e errar a mão. Do contrário, pode estar alimentando o mundo da fantasia virtual e esquecendo da vida real, onde todo mundo acorda com mau hálito e também tem dor de barriga. 

Precisamos reconhecer o lado bom. Problemas com empresas não passam mais impunes. Reclamações e hashtags ajudam a resolver o problema e principalmente criam uma relação de poder mais equilibrada entre as partes. Se o governo é corrupto, terá que se explicar no facebook. Se a empresa não cumpre o prometido, terá uma legião de desaprovações. O policial que pede propina será banido da corporação. Protestar e chamar a atenção está muito mais fácil. Se por um lado, as mídias sociais possibilitaram dar poder individual a cada um de nós, precisamos ter cuidado e bom senso para usá-las.

Com o recurso de video ao vivo descobri uma série de apresentadores até então anônimos na minha rede de contatos. Não acho que isto seja necessariamente um problema. Pelo contrário, revelar novos talentos é muito positivo. Entretanto, creio que por vezes falta um pouco de discernimento na curadoria ou edição de imagens. Não se trata de rótulos e todos temos temos o direito de nos expressar livremente. Também defendo a espontaneidade e simplicidade das nossas ações. A questão é o quanto você está disposto a abrir a porta da sua privacidade para o mundo e deixar qualquer um entrar em sua intimidade. Se tiver estômago, siga em frente. Do contrário, sugiro que seja mais cauteloso em suas publicações na rede para reduzir ansiedade ou evitar a exposição da sua família. E cuidado para não se perder no ciberespaço do vazio e da ilusão.

Publique suas fotos com bom senso. Valorize a vida real. Olhe no olho. Escute a sua voz enquanto fala. Ria de gargalhar alto com a vibração das cordas vocais e não com uma sequência de kkk com a boca fechada. Dê um abraço apertado nos seus especiais, daqueles de sentir como se vc tivesse 2 corações. E siga em frente.

Em tempo: este texto não tem o propósito de crítica dirigida a ninguém. Também não sou contra o uso das mídias sociais, tampouco tenho vocação para guru espiritual. Cada um tem direito de escolher o que é melhor para suas vidas. Foi apenas uma reflexão que decidi compartilhar.