sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pilote seus sonhos ...

Para aqueles que perderam a capacidade de sonhar, um voo de apenas 5 minutos.
Sirva sua alma. Bom voo.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Paradoxal





By Dudu Guedes.

Vivemos em um mundo paradoxal. Regras que existem para serem quebradas. Gato preto eh sinal de mau agouro. Passar debaixo da escada nem pensar. Como eh criativa a mente humana na fabricacao de associacoes para o azar. Alias, falar esta palavra tambem nao pode (espero que escrever nao seja igual).

Por outro lado, amuletos da sorte sao raros ou quase impossiveis de se achar. Ver uma estrela cadente caindo por entre as luzes da cidade ou cruzar com um trevo de quatro folhas eh tarefa de outro planeta. Confesso que nao conheco ninguem que tenha realizado esta proeza, fora das generosas telas dos desenhos animados. Fico imaginando o sujeito que inventou isso. O dialogo seria: "escolha uma flor mais complicada ..."; "Serve orquidea ?"; "ah, nao tem que ser algo mais raro pra dar sorte" ... Imagine agora uma escada apoiada na calcada, o que eh melhor: passar embaixo ou invadir a rua e correr o risco de ser atropelado ? E a historia de quebrar um espelho e ter 7 anos de ma-sorte (pensando bem, melhor nao falar a maldita palavra). Para as mocas, o pior eh comer o ultimo chocolate e ficar sem casar ... Fala serio, o que um ultimo chocolate tem a ver com casamento ? Da serie que bloqueia casamentos, tem ainda varrer o pe. Santa loucura !


Ora, se o azar (ops, falei) tem em abundancia, por que a sorte nao pode ser conquistada ao inves de ser premiada como um bilhete de loteria que nunca tem ganhadores e sempre acumula o premio ? Porque nao facilitamos um pouco ? Vamos espalhar por ai que se gato preto eh sinal de mau agouro, canto de passarinho representa sorte. Ja acordariamos com uma mentalizacao positiva. Teriamos um ambiente mais prospero com mais sorrisos e esperanca nas ruas. Talvez. Tudo bem, ja ouvi dizer que ser premiado com coco de pombo eh bom, mas ai tambem ja eh exagero.

Por que a sorte ou felicidade tem de estar associada a cruel estatistica enquanto o azar, ah esse tem de sobra por ai. "Faca um pedido se vir uma estrela caindo", dizem pelos cantos. Por que nao mudamos para uma "folha caindo" ? Contemplariamos muito mais felizardos ... Bons pensamentos e boas vibracoes estao em extincao, apesar de serem gratuito. Mais um paradoxo. Achamos estranho sorrir ou cumprimentar pessoas desconhecidas na rua. Eh coisa de maluco ou paquerador. Estranho eh nao falar, fingir que somos seres individuais desconectados de um todo. Quando o ritmo eh interrompido por um acidente, o cenario muda. Experimente cair de bicicleta. Certamente teremos muitas pessoas para ajudar. Se cair de moto em plena Marginal Pinheiros, a generosidade vai crescer exponencialmente como uma tribo que se reconhece (pobre do automovel desavisado que fizer parte do episodio). Entretanto nao deveria ser assim. Por que esperar a forca do imponderavel para fazer o bem ? Penso que somos muito bons em compartilhar a dor, mas compartilhar genuinamente o bem eh tarefa daqueles mais evoluidos, que deixaram a inveja e a pobreza de espirito de lado.

Certa vez, li um texto que discorria sobre a capacidade do homem de questionar coisas boas. Desconfiamos do que vai bem, mas parece que aceitamos muito bem o que vai mal. Explico. Se temos um bom emprego, uma boa familia ou um bom desempenho no colegio, parece que a todo instante esperamos um raio ruir sob as nossas cabecas. Desconfiamos da paz consistente. Parece que nos ensinaram que nao temos direito a ela. Ora, sim, temos direito. E a paz esta dentro de nos. Tudo bem que a vida eh feita de ciclos, mas por outro lado, nao duvidamos das tempestades. Quando vivemos uma dor, assumimos que o inverno entrara pelo verao. Fechamos logo a cortina para nao olhar para fora. Como se um espirro fosse logo sinal de pneumonia.

Outrora, um jornalista me disse: escrevo tragedia porque vende mais. Cruel e verdadeira a sentenca. Desde criancas, contos infantis plantam a ideia de que existem bruxas e herois. Novelas das 8 e revistas de fofoca perpetuam este conceito. Como se no nascimento recebessemos uma etiqueta de "bom" ou "mau". Como se o ser humano fosse o polo positivo ou negativo de uma pilha. Ora, somos a pilha inteira. E as vezes, realmente da choque. Experimente cruzar duas pessoas nos seus momentos de "polo negativo". Nao existe essa de "mocinho ou bandido" fora das brincadeiras infantis. Somos os dois. As vezes um, as vezes o outro.

Mudemos a perspectiva como se fossemos um helicoptero em pleno voo. As vezes, faz bem olhar de cima. Talvez nao mude a realidade imediata, mas ajusta o foco. E, na duvida, nao cruze as escadas; mas acredite: folhas caindo trazem sorte, especialmente no outono. Se vir uma dessas por ai, faca um pedido, eu garanto. Como dizia na historia, " o essencial eh invisivel aos olhos".

terça-feira, 2 de agosto de 2011

O silencio que fala



By Dudu Guedes

Na semana passada, surgiram a mesa do almoco comentarios acerca da admiracao de grandes empresarios. Pessoas com uma historia de sucesso de muitor suor, que construiram do nada muita fortuna e respeito. Batalhadores e admiraveis.

Tive que discordar. Nao que eu despreze o valor destas historias. Claro, tem seu merito e devem ser mesmo lembradas, comentadas e reconhecidas. Mostram a capacidade de superacao humana, trazem tambem progresso e prosperidade economica. Mas quase ninguem comenta daqueles que renunciaram a vida material em prol de uma causa maior, seja espiritual ou simples doacao. Lideres espiritualistas estao em extincao no ocidente. Valorizamos os lideres materialistas. Ora, creio que sair "do nada para tudo" eh muito mais facil do que sair do "tudo para o nada por livre e espontanea vontade". O ultimo certamente tem um coeficiente ainda maior de valor, mas nao na nossa cultura ...

Minha admiracao vai para estas pessoas. Que conseguem enxergar ainda em vida as coisas realmente importantes da vida. Que reconhecem a poesia num canto de passarinho. Que escolhem como papel de parede particular do seu dia o sorriso de uma criança. Que trocam o conforto de um banco de couro de um automovel de ultima geracao pelo selim de uma bicicleta. Que escolhem obrigado e por favor como os principais mantras da sua vida. Que olham mais para o coletivo do que para o individual.

Igualmente curiosa eh a repercursao social sobre a capacidade de oratoria destes lideres. Ora, valorizamos grandes oradores. Aqueles que tem o dom de se expressar. E a capacidade de ouvir, aonde fica ? Valorizamos mais a fala do que os ouvidos. Meio batido e antiquado, mas eh verdade a velha maxima dos dois ouvidos para apenas uma boca. Mas como sempre contrariamos a natureza humana: na faculdade, escolhemos o formando orador; cursos de extensao promovem a capacidade da oratoria e por ai vai.

Aprendi que existe muita sabedoria no silencio. Deveriamos criar na sociedade o papel do ouvidor. Numa formatura, teriamos o formando ouvidor com um lugar de destaque ao lado do formando orador. Ele apenas ouviria, mas tambem daria o tom atraves da expressao do seu olhar. Como o baterista, que parece o coadjuvante de uma banda, mas tem o papel fundamental de impor ritmo e velocidade. Se o formado ouvidor levantasse as sobrancelhas, seria hora do orador encerrar o discurso. Teriamos tambem cursos de extensao para tornar-se um bom ouvidor e colocariamos no curriculo na secao de formação complementar. Atendentes de call center ganhariam dobrado se tivessem certificado de conclusao.

O curso se resumiria a intensas aulas de meditacao. O instrutor nao falaria nada, apenas ouviria. Os alunos poderiam perguntar, mas seria em vao. Interprete o silencio, diria o instrutor em pensamento e com uma leve torcida na cabeca. O silencio tambem fala. Quem nunca ouviu o barulho do silencio num ambiente acusticamente neutro ? Pior eh quando nossa mente grita mesmo no silencio absoluto ... As vezes grita mais do que uma torcida em final de fla-flu no maracana. Quem souber onde tem um curso desses, por favor me avise. Confesso que gosto de uma boa prosa e tenho me revelado um bom tagarela. Mas tb exercito na marra a valorizacao do silencio.

Por vezes, tive o privilegio de subir a vista chinesa de bicicleta logo no amanhecer do dia. Parei ao lado da cachoeira e contemplei a visão. De olhos fechados, no inicio ouvi apenas o barulho da agua escorrendo por entre as pedras. Depois, um passarinho pareceu dizer bom dia. O som da cachoeira aumentou gradativamente ate reproduzir o barulho de uma verdadeira tromba d’agua. Abri os olhos. A cachoeira permanecia ali, a mente eh que silenciara. E quando isso acontece, nos conectamos com o divino. Escutamos mais o que esta a nossa volta. Nos permitimos viver o instante presente. Fechei os olhos novamente e uma forte ventania soprou. Reparei que não era um dia qualquer. Vento rajado, quente. Era sopro do vento norte, pre-frontal. Vento que antecede uma frente fria, no hemisfério sul. Daqueles ventos que fazem as portas bater repentinamente. Assusta, mas traz mudança. E que com esta mudança seja possível ouvirmos mais uns aos outros. E enfim, silenciar. Como uma cachoeira. Namaste.