quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Missão divina no mar ...


Segunda ensolarada no Rio. Feriado de 7 de setembro. Praia vazia, fruto de um fim de semana de chuva, que não trouxe muita esperança aos cariocas. Aqueles que sairam de casa tiveram o privilégio de encontrar um céu azulado, temperatura agradável do inverno carioca, mar verde azulado ou azul esverdeado, não sei dizer ao certo. A verdade é que o dia estava lindo, um convite para um banho de sol.
Cheguei na barra por volta do 12:00, e decidi fazer um stand-up paddle. Separei a prancha de quase 10 pés (ou quase 3 metros) e o remo para uma travessia até as ilhas tijucas. Apesar da previsão de vento, o mar estava liso, condição perfeita para a remada.
Rumo ao mar, remei por quase 30 minutos, quando na metade do caminho, senti uma rajada de vento mais forte, que me desencorajou a seguir adiante. Se a previsão de vento se confirmasse, seria mais difícil voltar da ilha, ainda mais considerando que estava sozinho nesta travessia. Meia-volta, decidi aproar para a praia e aproveitei para curtir um pouco daquele visual maravilhoso.
Já na chegada próxima a arrebentação, vi 2 pessoas mais para dentro do mar, ainda na arrebentação. Com os braços levantados, e alguma dificuldade para nadar, pareciam pedir ajuda. Ainda longe, conjugando minha miopia com o reflexo do sol, por alguns instantes tive dúvida se realmente precisavam de ajuda. Mas o corpo deles não parecia boiar e sim afundar cada vez mais rapidamente. Algumas pessoas de pé na areia acompanhavam a cena. Não tive mais dúvidas, e rapidamente comecei a remada até eles.
Em poucos minutos cheguei primeiramente até a menina. Coloquei-a na prancha e certifiquei de que estava bem, fora o susto. Com os olhos esbugalhados e visivelmente cansada pedi que esperasse na prancha, e resolvi nadar até o rapaz. Mais algumas braçadas até ele, que estava próximo a arrebentação da série de ondas.
Quando cheguei, ele já estava quase afundando, e rapidamente puxei ele de volta a superfície para que retomasse ar. Depois de cospir bastante água, pedi que ele segurasse em meu ombro e voltei nadando até a prancha, fora da arrebentação, no outside.
Coloquei os 2 na parte de trás do stand-up e, depois de poucas palavras, comecei a remada para a areia. O mar não estava dos maiores (série de 1 a 1,5 metros), mas estávamos dentro de um canal que formava forte correnteza para alto-mar. Além disso, havia um banco de areia próximo a praia, que tornava as ondas mais cavadas, com mais força e pressão, difíceis de surfar.
Remei por alguns minutos e pedi ajuda deles para que ajudassem batendo o pé. Rebocar 2 pessoas no stand-up num mar com correnteza não foi tarefa das mais fáceis. Os 2 estavam visivelmente cansados e ainda esboçavam medo daquela situação. Ao aproximar da praia, percebi que teríamos uma dificuldade de descer as ondas e comecei a recomendação: "vamos tentar descer as ondas, segurem firme e não larguem a prancha sob hipótese alguma!". Lá veio a esperada.
O rapaz seguiu direitinho a orientação, apesar de rolar na onda, em poucos segundos estava no banco de areia na parte rasa. A menina caiu da prancha junto comigo. Percebi que ela começava a entrar em desespero, depois de alguns ondas na cabeça. Levantei novamente ela para respirar e tomar ar, e pedi que agarrasse meu ombro. Comecei a nadar até a praia e aproveitei o embalo de mais uma onda. Aos poucos chegamos na areia.
O rapaz, já fora da água deitou na areia claramente retomando as energias do grande susto. A menina ainda de olhos esbugalhados começou a chorar. Sua amiga na areia agradeceu e curiosamente vi um salva-vidas que me esperava sair da água e perguntou : "Seus amigos ? Passou um susto heim". Sinceramente, não entendi e fiquei perplexo com a pergunta.
As poucas pessoas na praia, de pé, me cumprimentaram e ensaiaram críticas ao salva-vidas. Na sequência, o rapaz veio me agradecer e disse: "obrigado, deus te mandou até mim, não sei nem como agradecer". Disse que não era necessário, mas que tomasse cuidado, o mar estava traiçoeiro.
Algumas poucas palavras trocadas e ali terminava nossa história.

Sem dúvida a sensação de quase afogamento no mar deveria ser marcante, mas a sensação de salvar a vida de uma pessoa também mexe com nossa cabeça. Depois do susto, pensei no significado daquilo tudo. Acredito que nosso dia-a-dia recebemos a cada instante mensagens espirituais, algumas que passam quase despercebidas, outras mensagens mais fortes.
A mensagem de afogamento na minha visão se assemelha muito ao momento do nascimento, em função da água, do choro, e do susto (neste caso, praticamente um renascimento). E para mim, aquela mensagem mais parecia uma missão divina. Certamente, eles esquecerão do meu rosto, mas jamais esquecerão daquele momento. E eu também.

Despedimos sem que ele soubesse meu nome ou que eu soubesse o deles. Tudo muito rápido, mas muito intenso.

Um comentário:

  1. Há Big Fly ... My hero! Vc com certeza esteve lá naquele momento e não foi a toa ... Mensagens que significam algo, e sábios são aqueles que tem o dom de interpretar os sinais enviados e por isso vc não remou até as ilhas tijucas e resolveu voltar. O acaso não existe e se não existe acaso, obrigatoriamente tudo no Universo está determinado, isto é, tem um propósito, e vc mais uma vez esta sendo protagonista na vida das pessoas. Mandou mega, super, big, MUITO BEM !!!

    ResponderExcluir