quarta-feira, 5 de março de 2014

Confete e serpentina

Texto por Dudu Guedes

Confesso que aprendi a gostar de carnaval. De longe. As vezes de perto. As vezes de muito perto. Impossível ficar totalmente de fora da festa quando se mora no Rio de Janeiro. Aprecio o movimento daqueles que se juntam harmoniosamente ao clima festivo da cidade. Ja encontrei palhaco, presidiário, she-ra, robocop, noiva, gueixa e ate mesmo a Dercy Goncalves decidiu aparecer por aqui. Estava bem animadinha. Pelo visto, ultimamente o ceu deve andar um pouco sem graca, a julgar pelos seus excessos. A vantagem de se fantasiar como a Dercy eh que voce ganha uma especie de altus para a folia. Qualquer exagero pode ser justificado como parte integrante da fantasia. Nesse caso, devo confessar: Dercy estava bem convincente. E vc, qual a sua fantasia? Surfista, respondi. Chinelo, bermuda, óculos escuros. Gravata no pescoço, chapéu colorido, coloquei a prancha no carro como ultimo adereço e fui pra minha escola de samba.

Na praia, o ambulante oferecia esfirra com um turbante envolto na cabeca. Seria mais apropriado se hoje ele vendesse picole ou mate leao. Disfarce perfeito do carnaval. Tudo bem, são os ossos do oficio. Imaginei a cena. Voce entra no shopping e pede informacao ao homem de terno preto parado na porta. Ele te devolve: sundae ou casquinha? Antes que voce pense que se trata de um novo código ou qualquer associação com o rolezinho, ele explica: "to aqui fantasiado de seguranca, mas sou caixa do macdonalds". Um tanto esquisito, melhor nao. Se bem que Carnaval eh mesmo da família das curiosidades. Ate o batman já tomou dura na lei seca e assoprou o tal aparelhinho. Gothan City ja nao eh mais a mesma.

Do outro lado da rua, enquanto uma legiao de noivas procurava o seu marido, a Fiona agarrou o homem aranha e desistiu do Shrek. O Shrek procurava a freira pra se consolar. A freira beijava o presidiário. A gueixa tomava cerveja de latinha, acabou o saque. A branca de neve com a barba por fazer tomava o saque da gueixa. O catador de latinhas eh aplaudido e reverenciado pela legiao no meio do bloco. Em ipanema, o "papa Francisco" se juntava as diabinhas. A princesa meio acima do peso dava um show de beleza e sambava na avenida, enquanto o incrivel huck vomitava esquecido numa esquina qualquer. Papai noel fugiu do frio e tirava umas ferias por aqui. Nem o cachorro escapou e estava fantasiado de hot-dog. E a nota dez vai pra a criancada. Bloco da alegria genuína e autentica. O superman e barbie estao em baixa. Este foi o carnaval da monster high. Monstrinhas e monstrinhos de varias cores e tamanhos. Novos simbolos e herois que surgem, mas a essencia infantil continua igual. Gracas a Deus.

O carnaval eh talvez o mais democrático dos movimentos. Eh quando se junta o operário e a burguesia. Ou melhor, quando a burguesia aplaude de pé o trabalho dos operários. Um ano inteiro de trabalho duro que se eterniza na passarela. Do mestre alas a passista.

Carnaval eh assim: meio exagerado e contraditorio. Mas uma contradicao autentica que da a liberdade de ser quem voce quiser e de criar a propria historia. Eh quando o individual parece ter mais força do que o próprio coletivo. Ja vi sapo com princesa, e sete brancas de neve com apenas um anão. Eh como um bonus do ano novo. E dizem mesmo que no brasil o ano só começa depois dele. 1 trimestre de treino ate que comece 2014. Verdade. Mas eh bom nao exagerar, pois a musica ja ensinou que todo carnaval tem seu fim e apesar de sugestivo, o mundo realmente nao acaba na quarta feira de cinzas.

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