quarta-feira, 2 de abril de 2014

Quando um sorriso lhe sorri



Texto por Dudu Guedes

A cada manha, a cena se repete. Como no capitulo de uma novela que conta todos os dias a mesma historia. Mas desta vez, uma historia do bem. Sem culpa, helenas ou assassinatos. E lá estou eu como protagonista deste enredo cotidiano. Que nada! Caio na real. Sou apenas um mero coadjuvante, ou melhor, figurante desta historia. A cena é dela. Não sei o seu nome, mas pouco importa.

08:45 da manha. Sinal vermelho na rua santa clara. Piso no freio e paro. Uma fila de meia dúzia de carros está na minha frente. Todos com o vidro fechado. O sol do pleno verão carioca anunciava um novo dia quente. Com alguns exemplares do jornal matutino debaixo do braço, ela anda diariamente por entre os carros. Sorriso no rosto, mão esticada, olho no olho, ela me entregou o jornal, lançou um autentico e sonoro "ooootimo dia" e seguiu adiante. Pouquíssimos segundos de interação, mas suficientes para revelar a beleza de sua alma. Cada janela aberta parecia como mais um objetivo cumprido. Sua meta não era entregar jornais, mas sim aquecer a manhã com um bom dia daqueles contagiantes que ecoam por minutos e irrigam o ambiente com paz e harmonia. Foi assim que ela passou a fazer parte diariamente da minha vida. Com duas simples palavras. E um sorriso.

Frequentemente levamos a vida como se fossemos os jogadores de uma partida de futebol. Precisamos convencer, agradar, buscar uma aceitação externa quase como uma absolvição do juízo final. A plateia é grande, e não basta um simples sorriso. Queremos aplausos de pé e coros de bis. Tentamos agradar a esposa ou marido, filhos e filhas, o chefe, o irmão ou a irmã, sobrinhos, amigos. Claro, é sempre gratificante ter a aceitação daqueles que amamos. Significa que somos compreendidos, aceitos e garantimos a euforia do pertencimento. Cada um escolhe sua melhor arma nesse campeonato do bem. A esposa que capricha no jantar ou o marido que traz a sobremesa. Nao importa, pois o amor é mesmo contagiante e nos faz pessoas melhores.

Entretanto, por vezes, creio que falta mais espontaneidade em nossas ações. Deveríamos simplesmente fazer pelos outros e nao para os outros, a exemplo da moça do sinal. Parece igual, mas não é. Quando fazemos por alguém, deixamos de lado nosso desejo egoísta de receber algo em troca. Quando fazemos para alguém, estamos alimentando inconscientemente nosso ego. Lá na frente, em algum momento o sinal dispara, requisitando de volta o favor, a atenção ou o carinho despejado. Não funciona bem assim. Ora, claro que que é bom receber o reconhecimento das nossas ações, especialmente quando vem devolvido em forma de amor. Mas por vezes esquecemos que o amor tem formas e embrulhos diferentes. Cada um com a sua historia, o que nos faz unicos na maneira de ser, pensar, agir e principalmente sentir.

Quando se trata de sentimento, pode esquecer a lógica das ciências exatas. Emocao nao esta no mesmo plano da razao. Ainda bem, pois permite que cada uma cumpra bem o seu papel. Gracas a emocao, ainda nao nos tornamos robôs. E gracas a razao, ainda nao nos matamos uns aos outros. O pragmatismo e a subjetividade andam juntos e harmoniosamente. Enquanto um busca o caminho mais rapido, o outro trata de aproveitar a paisagem.

Na praia a sofia dizia para o pai: "venha, está chovendo e eu vou te proteger" (enquanto carinhosamente puxava o pai para debaixo da barraca). Sincera, Sofia era como filha e mãe naquele momento. Como toda mulher, mesmo sendo criança, já levava no coração seu instinto materno de proteção. Mas era genuína e pura na sua forma de regar o amor.

Admiro pessoas de bem com a vida. Daquelas que sabem colocar ponto de exclamacao na sua rotina. Daquelas que fazem isso de graca, emanando energia vital de dentro para fora. Daquelas que genuinamente se emocionam com o por de sol dentro do palco do seu dia a dia e sem a necessidade de mudar de país para desfrutar do usual.

Elegancia para mim é simplicidade voluntaria onde ter pouco não significa escassez, mas apenas focar naquilo que realmente importa. Deixemos a hipocrisia de lado. Ganhar dinheiro não é pecado, mas melhor ainda é saber emprega-lo de maneira equilibrada, entendendo que o suficiente é sempre melhor do que o exagero. Que possamos ter menos robocops nas cidades e mais sorrisos sinceros em nossos semaforos. E quando um sorriso lhe sorrir, aproveite, com a sensibilidade de nunca quebrar essa corrente do bem. Amém.

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