Um homem pobre de alma rica

Compartilhando um pouco do meu dia ...

Hoje o dia foi corrido. Sexta-feira normalmente eh assim. Vespera do final de semana, tudo parece resolvido, e de repente vem a turbulencia. Normal, nao deveria ser uma surpresa. A natureza tambem eh assim. Previsivel. Quando o vento cessa e vem a calmaria, ceu azul e calor, normalmente eh prenuncio de mudancas no clima e temperatura.

No trabalho, tb nao seria diferente. Uma apresentacao para a empresa ocupou meu tempo hoje. Nada demais. O pedido de ultima hora custou as horas do meu almoco. Uma corrida contra o relogio, ja que a apresentacao seria as 16h.

Missao cumprida as 15h30. Decidi almocar rapido e fui no macdonalds. Confesso que nao eh das minhas escolhas preferidas, mas tudo bem. Ate que um sundae de maca com canela cairia bem, pensei.

Supermercado vazio (o macdonalds fica dentro do carrefour), levei a bandeja ate a mesa e me sentei. A cabeca tomada por um turbilhao de pensamentos nao me traziam muito sossego naquele instante. Pra mim, almocar deveria ser uma hora sagrada. Sou contra o cultura fast-food que valoriza almocos rapidos ou mesmo conversas sobre trabalho a mesa de almoco. Esta eh minha conviccao: almoco ou jantar deveriam ser momentos de relaxar, falar de amenidades, curtir a familia e encontrar amigos. Infelizmente o meio no qual estou inserido nem sempre me permite ter uma pratica coerente com minhas crencas. Faz parte.

Entre um nugget e outro, uma cena roubou minha atencao. Pelo restaurante, entrou um sujeito de cabelos negros compridos, barba grande mal feita, roupas velhas, rasgadas e maltrapilhas. O homem se dirigiu lentamente, quase que em camera lenta, ate a lixeira e comecou a procurar alguma coisa. Naquele instante, percebi um significado maior. O compromisso da nossa existencia com o mundo. Relativizar eh preciso e notei a verdadeira dimensao do que eh ter um problema real. Aquele homem tinha fome. Uma das necessidades basicas asseguradas em qualquer cartilha de direitos humanos.

Levantei-me ate o caixa, pedi qualquer um dos sanduiches que ja estivesse pronto, um suco de uva, embalei para viagem e fui ate o homem. Ele estava agachado no chao tentando juntar as batatas que cairam enquanto remexia no lixo. Estendi a mao com o lanche e disse: para voce ! Ele retrucou: nossa, tao rapido, muito obrigado !

Sai e pensei: o que seria o "tao rapido" ? Resultado dos seus pensamentos e preces atendidos ? "Tao rapido" ? Sentir fome a ponto de remexer no lixo e aguardar que alguem levasse um lanche ? Definitivamente, aquele homem tinha um problema real, bem maior do que os pensamentos que as vezes afligem nossas cabecas. Ele me agradeceu, mas na verdade q eu nem tive tempo de agradecer seu ensinamento. Sem saber, aquele sujeito me mostrou uma profunda sabedoria. Conseguiu silenciar minha mente por alguns minutos e me trouxe uma perspectiva diferente pro mundo. Um homem pobre, com um grande problema, mas que nem por isso deixou de lado sua paciencia, educacao. Um homem pobre de alma rica. E como existem homens ricos de alma pobre, pensei.

Nossa sociedade eh egoista. As relacoes humanas na sociedade ocidental sao construidas seguindo o principio da economia do dinheiro. Buscamos interagir com o mundo e construir relacoes afetivas (de amizade, amor, fraternidade etc) com pessoas que possam nos proporcionar alguma coisa, sejam risadas, seguranca, carinho etc.

Mas em geral, as pessoas que mais necessitam da gente sao as que menos tem a oferecer naquele momento. Na verdade, nos que deveriamos oferecer. E lembrar que a vida, de qualquer um, tem seus ciclos bons ou ruins.

Obrigado ao homem que silenciou o meu almoco.

Sejamos a mudanca que queremos ver no mundo, desde hoje e sempre.

Por Dudu Guedes.