terça-feira, 4 de agosto de 2009

A ajuda que vem do Céu ... XCeará.


Tá chegando ... De 21 a 29 de novembro, Ceará será palco da maior competição de parapente do mundo: o XCeará. Os melhores pilotos do mundo (50 no máximo por questões de logística de resgate e segurança) reunidos em Quixadá em busca da quebra de recorde mundial. Uma tradição que já se repete há mais de 10 anos, e em 2007, colocou o Brasil em destaque através do vôo de 461 Km. Isto mesmo, 3 pilotos brasileiros muito experientes e de incrível humildade - Cecéu, Frank e Rafa - quebraram o recorde mundial de parapente. Decolaram por volta de 07:30 da manhã de Quixadá-CE, cruzaram o Piauí e pousaram no Maranhão, por volta de 17:30, com 461 km percorridos em um único vôo de parapente, sem motor. Apenas aproveitando as térmicas do dia e fortes ventos do sertão.
O melhor vôo do mundo, com as melhores e mais extremas condições do planeta. "Surf de onda grande", como definiram analogamente. Para voar em Quixadá, tudo é muito grande e no limite: decolagem com rajadas de mais de 50km/h, térmicas fortes, pouso complicado.
A decolagem é um momento realmente crítico: enquanto 5 meninos seguram juntos o parapente aberto evitando que o piloto seja arrastado com as fortes rajadas, um experiente piloto local observa os sinais da natureza. Quando as árvores e o açude localizado na frente do pouso páram de balançar, significa que o vento vai dar uma diminuída. Nesta "breve respirada do vento", é o momento de decolar. "Pode decolar !", grita o piloto de apoio, numa rápida janela que algumas vezes não dura mais de 15 segundos.
O pouso antes das 15h também é crítico: térmicas que te levantam subitamente próximo ao chão comprometendo seu plano de pouso, e vento tão forte que às vezes faz você voar para trás.
Pra voar no Sertão não pode ter frescura: as caminhadas algumas vezes são longas após o pouso, debaixo de sol forte, ar seco, muita terra. As caronas algumas vezes são de jegue, moto ou quando mais luxuosas na boléia do caminhão de algum generoso motorista.
Por outro lado, uma comunidade extremamente acolhedora. Muitas histórias de gente diferente que subitamente cruza o seu caminho. Um encontro rápido, nem por isso menos enriquecedor ou intenso. Gente simples, mas com enorme riqueza espiritual. Gente de verdade, de carne e osso. Que não se importa com sua origem, com o cargo que você ocupa, com sua conta no banco ou com qual é o tamanho da sua TV de Plasma. Gente simples, mas de verdade e por inteiro.

Minha primeira experiência em Quixadá (em 2010 gostaria de ir novamente!) , foi em 2007. Um ano especial, o ano do recorde, com pilotos muito experientes de todos os continentes do planeta e uma condição extremamente especial. Além de treinar inglês e espanhol, fiz alguns bons vôos de 40 Km e pouco mais de 100 km ... mas nada demais para o sertão. Primeira vez naquela rampa, por isso estava muito conservador em relação a um vôo tão forte (se é que existe conservador em quixadá).
Entretanto, além do vôo, o que mais me chamou a atenção foi a interação com a comunidade local. Em função dos fortes ventos do sertão, era necessário voar com lastro (peso) para tornar a vela mais estável. Mas ao invés de utilizarmos água ou areia como o lastro, substituímos por alimentos como arroz, feijão, milho (fotos abaixo). Assim ao pousar pelo sertão do lado das casas, distribuímos os alimentos para os moradores da região. Além de voar no campeonato, um serviço social e tanto. Realização em dose dupla: um vôo incomparável e um imenso sorriso sincero após o pouso de gente muito grata pela doação do alimento.
Confesso que algumas dessas experiências provocaram pra mim uma intensa reflexão. Em um dos vôos, pousei do lado de uma casa muito simples, pensei que estivesse até abandonada. De repente saiu um homem, já velhinho, com a perna imobilizada com alguns parafusos e placas externas expostas, e apoiado em um cabo de vassoura (sua bengala improvisada). Trocamos algumas frase, e eu disfarçando todo aquele aparato tecnológico (rádio de comunicação, câmera fotográfica etc). Confesso que me senti mal, envergonhado com tanta desigualdade que gritava na frente dos meus olhos. Perguntei sobre seu acidente, e ele me confidenciou que não tinha dinheiro para remédios ou tratamento (o atendimento público demoraria alguns meses para a próxima consulta). Separei a única nota que tinha de R$ 50 e dei para ele, que quase não acreditou. Na despedida, o coração bateu mais forte e acabei deixando também um boné e o casaco que eu usava em vôo (no sertão, a noite, faz frio).
Na caminhada para a rodovia mais próxima, já sem dinheiro, pensei em como eu faria para comprar uma água ou pagar um resgate até a pousada. Felizmente, a natureza me retribuiu a gentileza, e um motoqueiro (confesso que foi tão rápido que nem vi de que lado ele veio) parou e me ofereceu carona. Com a dificuldade de equilibrar o parapente na moto, ainda paramos na casa de um do seus amigos para tomar uma água. Obrigado ao amigo que nem sequer sabia meu nome. Mas que ofereceu uma ajuda que muita gente da cidade grande, mais instruída e com pós-graduação nas melhores faculdades, não faria. Tem uma frase que diz: "o valor das coisas não está no tempo que ela duram , mas na intensidade com que acontecem. Por isso ,existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".
Já de noite, na pousada, ao contar a história para o amigo e piloto Peixe, ele brincou para que eu não levasse muitas roupas sob o risco de voltar pelado com um coração tão mole. Valeu a pena a realização de contribuir um pouco.
Outras boas amizades e lembranças foram com Elder, Direi, Sidirlei, Wagner e outros. Os meninos de juatama que tanto ajudavam na decolagem, não só tecnicamente, mas emocionalmente a dominar o medo. Cadastrei o primeiro email deles para que pudessem se comunicar com os pilotos de toda parte do mundo. Felizmente até hoje nos comunicamos. Em dezembro, recebi uma ligação muito especial deles para desejar um feliz natal, através de fila que fizeram no orelhão. Como eles queriam aprender a voar, e eu estava trocando de vela, resolvi presentea-los com meu equipamento completo (vela, seleta, reserva etc). Um instrutor local se disponibilizou a ajudá-los e hoje eles já estão voando em Quixadá. Meninos da juatama, uma estória muito bonita de superação.
Praticamente não tirei muitas fotos em vôo (um pouco de medo de largar os comandos do parapente nestas condições), mas não economizei flash para registrar estes novos amigos.

Parabéns ao Chico Santos, organizador deste evento tão nobre e reconhecido internacionalmente em terras tupiniquim.

Ps. o Xceará deste ano ainda está sem patrocínio. É uma excelente oportunidade para empresas de Telecomunicações, em especial celulares ou fabricantes. Um rally dos sertão diferente, que se faz voando e onde a presença de um GPS, celular e outras tecnologias são recursos obrigatórios. Pouco investimento para um excelente retorno de visibilidade a marca ! Recomendo.



3 comentários:

  1. Bacana Big Fly! Matéria muito bem redigida a ser publicada em qualquer meio de comunicação de massa e alta circulação. Parabéns!

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  2. Duzinho , meu filho , cada dia tenho mais orgulho de você .
    Agradeço sempre a Deus por ter me abençoado com um filho maravilhoso !!....E peço que o Senhor continue te protegendo e iluminando teus caminhos .
    Você é muito especial !
    te amo D+ !
    Bjs de sua amiga e mãe,
    Nancy
    PS: Não vejo a hora de podermos voar juntos !!

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  3. Meu lindo, agradeço todos os dias por Deus ter te colocado em meu caminho...homem de raras qualidades, que possui uma visão com pura sensibilidade do mundo e do próximo!
    te amo demais...e concordo com a Nancy, pois você só nos causa ORGULHO!!!!!!
    Mil beijos doces

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