quarta-feira, 8 de abril de 2020

Anjos no caminho


Texto por Dudu Guedes

A cada dia, estou mais convencido de que anjos existem. Mas eles não aparecem com asas ou aureolas como aprendemos na infância. Eles se manifestam em outras formas mais usuais e menos clichê. 

Ja vi anjo aparecer em passarinho, crianca, cachorro de rua, livro, chuva, formiga, sapato escondido, motorista de uber ou taxi (acredite, eles nao tem preferência), enfermeiro, ambulante, e até em melancia ou sorvete. Nao importa. É preciso sensibilidade para notar sua presença e humildade para aceitar suas brincadeiras. Precisamos nos despir das vestes de adultos e colocar as lentes de observador. Basta ver um mundo diferente, com combinações de cores que não aparecem no windows. 

O brilho das estrelas só se revela nas noites mais escuras. Sim, sempre tem uma saída, sempre tem um caminho a seguir. Mas por vezes, buscamos atalhos e fugimos dos atoleiros. Impossível. Ninguém tem a garantia de uma vida sem dor. Mas a música já ensinou que "não se trata de chegar no topo do mundo e saber que venceu, mas escalar e sentir que o caminho te fortaleceu". Escalemos sem medo de cair. Que o medo te mova com segurança mas nunca te faça parar. E se for inevitável a queda, que os anjos do caminho segurem a sua mão para te levantar. E que saibamos ser gentis para permitir que eles entrem em nossas vidas.

A menina de 4 anos perguntou ao mestre: eu tinha um cachorrinho e ele morreu, como não me sentir tão triste? O sábio sorriu e respondeu: Você olha para o céu e percebe uma linda nuvem. A nuvem se transforma em chuva. Quando você bebe um chá, você pode sentir que aquela nuvem ainda está ali. Como um anjo disfarçado de bebida, o chá pode ser capaz de tocar seu coração e fazer você se sentir mais perto daquela situação.

No meio da calcada, tinha um beija flor. Sim, estava no canto, imóvel, e sem bater asas. Sem titubear, ela pegou o beija-flor e levou para casa. Seu pai gentilmente colocou em uma gaiola improvisada que não tinha porta. Mas o beija flor não voava. Todos os dias, vinha outro beija flor levar a comida através do bico. Durou quase 2 semanas, e finalmente ele voou.

Ela apareceu em sua vida meio sem querer. Como um milagre disfarçado de abrigo, lá estava a cadelinha parada na porta de casa com carinha de assustada. Sem titubear, ela foi levada para dentro e recebeu um pouco de agua e ração. Olhos azuis, médio porte, pêlo caramelo, cerca de 1 ano de idade, foi mesmo paixão a primeira vista. Não pela descrição física mas pelo carinho cativante de quem implorava cuidado e transbordava amor. Vida foi batizada com esse nome após tentativas frustradas de achar o seu antigo dono. Na verdade, ela adotou a nova família. Como um presente daqueles que vem embrulhado e gentilmente é deixado na porta de casa. Impossível recusar ou devolver a transportadora. Nessas horas, nos sentimos mais próximos da presença de Deus e quão grandioso e sábio é mesmo a natureza divina. Foi assim que meio que sem querer, Vida entrou naquelas vidas. De um jeito inesperado, com sua simpatia e jeito beijoqueira. Um anjo de quatro patas que ensina todos os dias o que é amar na sua forma mais pura e ingênua.

E assim os anjos se manifestam. Sem pedir licença ou por favor, inundam nossa vida com verdade e significado. Que sempre existam flores para regar e beija-flor para alimentar. Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário