quarta-feira, 8 de abril de 2020

Famílias Coloridas



Texto por Dudu Guedes em 5/fev/18

Recentemente um grande amigo me brindou com o convite para uma palestra que ele faria sobre adoção. Ele e sua mulher adotaram Miguelzinho, um pequeno vascaíno de cabelo black power, jeito cativante e brincalhão. Uma figurinha. 

Independente de qualquer pretensão sobre adoção, confesso que no início tive um certo preconceito e resistência em visitar o grupo. Durante 1 hora de palestra, foi como um soco no estômago. Pensei que iria encontrar histórias tristes e gente esquisita. Tolice e arrogância que nasceram na ignorância de um assunto novo e desconhecido para mim. O que vi foram pessoas decididas, que colocam os sonhos acima dos próprios medos, que cultivam a capacidade de amar como seu bem maior, que entendem que existem muitos caminhos diferentes na vida mas que ainda assim podem ser maravilhosos.

O texto a seguir foi inspirado após um depoimento real que presenciei neste mesmo dia.

"Me desculpem os covardes. Nao sou gay, maluco nem pedofilo. Meu nome eh carlos renato, pai do Christopher em um processo de adocao tardia monoparental. Meu filho nasceu com 11 anos e com muito mais experiencia do que eu ja tive em toda minha vida. Em 44 anos, ainda não experimentei tudo que ele viveu.

Na verdade, ao contrario do que eu pensei, foi ele quem me adotou, eu apenas o reconheci. Na vara da infancia, ele confirmou todas as perguntas para que pudessem me oficializar como seu legitimo pai. Nossa primeira conversa foi a partir de um simples pedaço de papel. Quando o conheci, perguntei se ele sabia fazer um avião de papel. Pensei que eu estaria ensinando alguma coisa, quando ele prontamente me respondeu: sabe fazer um pavao? E imediatamente me fez em origami. 

Confesso que o inicio nao foi facil. Mas foi tao dificil como seria com quaisquer pais de um recem-nascido. No meu caso, eu nao tinha um bebe chorando dentro de casa, nao acordava no meio da madrugada, nem tive que trocar as suas fraudas. Mas também tive que reorganizar a minha rotina, ajustar minhas atitudes e rever os meus valores. A gestacao do meu filho nao durou 9 meses, mas sim 2 anos. Tempo suficiente para me preparar para o seu nascimento. Uma gestacao afetiva nao acontece no utero, mas no coracao. Hoje conversamos sobre musica e jogamos futebol. Ele é meu filho e meu melhor amigo. Me ajuda a cada dia a me transformar em um ser humano melhor. Me ensina quando eu menos espero. Me inspira e me faz crescer".

Familias adotivas são assim. Coloridas. Tem multiplas formas, cores e expressões. Ai de quem ousar questionar a sua origem. Não importa. Eles não se reconhecem por lanços de sangue, mas sim pelas batidas do coração. Estas sim parecem estar docemente ajustadas como uma musica que toca sempre no mesmo ritmo e nunca perde o tom.

Recomendo todos a visitarem o grupo "rosas da adoção" e seu belíssimo trabalho, independente da pretensão de adoção. Basta sentar e ouvir estas histórias para refletir o quanto a vida é boa, farta de possibilidades e generosa quando somos corajosos em seguir adiante. Sejamos autênticos nas próprias escolhas independente do julgamento dos outros. Obrigado ao Mauricio por me emprestar suas lentes para ver o mundo de outra forma e ensinar que a alegria se constrói na leveza e espontaneidade de nossas decisões. 

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